sábado, 2 de abril de 2011

Poesia curta

André Caixeta Colen

Poesia curta é assim.
Nem bem começou,
nem bem se gosta
nem bem se lê
E fim.

Sem título

André Caixeta Colen

Toda loucura será perdoada
Todo amor será sorvido
Toda dor curada
Todo sorriso sentido
Toda intriga desnudada
Toda solução rebatida
Toda ilusão será dos amantes
Toda certeza será sorvida
Todo paisagem será dos mirantes
Ao final de tudo, toda e todo
Restará o amor sorrido
O sorriso sentido
e nada mais.

Loucura

André Caixeta Colen

Loucura é passar por esta vida e não viver
É passar desapercebido por entre as gentes
Loucura é perceber que não sorriu durante todo o dia
não amou, não chorou. Não sentiu nada!
Loucura é não rir de si mesmo, não falar bobagem,
não gostar de coração aberto.
Loucura é não olhar com carinho uma pessoa
fazer um carinho em sua face e dizer:
"Eu te amo!"
Loucura é não gostar de música
é não se emocionar com poesia
Loucura é se martirizar por amor desfeito
sofrer e viver deste sofrimento.
Loucura é pensar que sua felicidade,
sua própria razão de ser,
depende de outra pessoa.
Loucura é não se emocionar com um abraço sincero
com um sorriso de uma criança
Loucura é achar que está sempre certo,
não ter humildade de reconhecer o erro,
de não buscar a própria superação.
Loucura é distinguir as pessoas,
não pelo caráter,
mas pela cor, sexo ou religião.
Loucura é dizer que ama a Deus
e em nome Dele matar,
criticar e fazer pouco de quem, como você,
não comunga da mesma idéia.
Loucura é não gostar de cantar,
de fazer amor noite adentro,
de escrever poesia mesmo sem saber.
Loucura é gritar com as pessoas no trânsito,
se irritar com engarrafamentos,
matar pessoas sem qualquer razão.
Dizem-me que sou louco
talvez eu seja mesmo
talvez este mundo não seja para mim
talvez me falte a hipocrisia, sei lá!
Contudo, loucura, loucura mesmo,
seja aquela babaca e transvestida coisa
que as pessoas teimam em chamar de normalidade.

Aquele que eu sou

André Caixeta Colen

Sou aquele que anda tonto,
trôpego pelas ruas cegas.
Sou aquele que a busca
pelas cidades cinzas.
Que vaga pela noite,
uiva para a lua,
estremece os ventos
que chicoteiam as montanhas.
Sou aquele que busca teu coração,
o amor desprendido,
a paixão enlouquecida
e o teu sexo quente.
Sou aquela voz despudorada,
que rasga teu ouvido,
inunda teus canais.
Sou aquele braço a te pegar,
a te jogar na parede
E a murmurar em teu ouvido:
"Vem minha mulher!"
Sou aquele que canta em teus ouvidos
que acarinha teu corpo
Sou aquele que arranca teus suspiros
Aquele que estremece tuas pernas
Sou aquele que a serpenteia
que lhe invade com as mãos
Aquele que embala teu sono.
Sou aquele, jamais poeta,
apenas mais um na multidão.
Apenas seu em meio à multidão.

Minha escrita

André Caixeta Colen

Farei de tua pele meu papiro.
Em tua tez descreverei minha Helena
De tuas costas farei uma epopéia
Em tuas coxas narrarei os argonautas
Derramarei em ti as águas dos oceanos,
navegarei pelos teus caminhos
ditados pela rosa dos ventos,
pela rosa de teus olhares.
Escreverei em cada dobra,
em cada estreito pedaço de ti,
a história de uma vida,
o amor de nossas vidas,
o sexo entre duas pessoas.
A tinta sairá de minha boca
e gravara sobre teu papiro
invadirá teus morros,
tuas grutas e teus mistérios.
Meus dentes serão dos esfomeados
dos subnutridos de amor,
serão cravados sobre tua carne quente,
dilacerando e serrilhando-te.
A invadirei como os bárbaros,
não pedirei licença,
não terei polidez romana,
serei um intruso em teu corpo,
em teu espírito.
Tomarei posse de ti,
vindicarei teu coração
reclamarei teu espírito e teu sexo.
Serás minha bíblia.
Nas tuas virilhas farei meu credo,
no teu sexo minha paixão,
meu perdimento, reconhecimento
e elevação.
Serei teu leitor da noite
teu escritor das madrugadas
e teu amigo de todos os dias.

Desejos

André Caixeta Colen

No teu cabelo quero me afogar
Nos teus olhos me perder
Na tua mão me suavizar
No teu beijo enlouquecer
No teu pescoço te farejar
No teu riso me entreter
No teu coração morar
No teu sexo estremecer
Nos teus pensamentos me fixar
Nos teus contornos te conhecer
Na tua coxa meus dentes cravar
No teu canal fazê-la liquefazer
No teu sussurro enrijecer
No teu gozo me lambuzar
Nos teus braços adormecer
E por fim
Em meu peito
Exausta
Satisfeita
Molhada
Amada
Na nova manhã
Vê-la acordar

quinta-feira, 17 de março de 2011

Minha ambição

André Caixeta Colen

Quando me perguntavam
Ainda menino
O que queria ser
Respondia sem pensar:
"Quero ser rei
Soldado
Quero ser jogador de futebol
Talvez artista
Desenhista
Sonhador de sonhos não sonhados
"
Via-me perdido em quereres.
Depois cresci
E quando me perguntam
O que quer ser?
Apenas me vem uma resposta:
"Quero eu ser pó!"
Sumir no mundo
Desaparecer e só
Assim, sem nada
Sem razão
Nem por que
Só ser pó
Não ter de preocupar
Nem em ter
Nem em ser
A não ser
Em cumprir
Meu dever
Minha sina
Meu fado
Meu fim
E ser pó
Talvez seja isso!
Talvez todos
Uns mais
Outros menos
Temos este desejo
Esta inexorável expectativa
De um dia deixar de ser
Deixar ver
Deixar de se aborrecer
E ser pó!
Pó invade tudo
Não conhece fronteira
Não tem lugar
Invade e pronto
Ali está
Faz-se pó!
Pó não tem hora
Não tem idade
Não tem pressão
Não tem de correr
Ele é íntimo
Percorre nosso corpo
Ele navega
Solto no ar
Sem amarras
Sem destino
Só se navega,
Pó!
Taí! É definitivo!
Quando morrer
Façam-me pó!
Joguem-me por aí
Para que eu
Enquanto pó
Também possa
No meu tempo
Na minha hora
Sem pressão
Amarras
Destino
Sem fado
Sem caminho traçado
Direção determinada
Ser finalmente eu
Pó!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Teoria do caos

Por André Caixeta Colen

Ele esta na fila do supermercado
Ela não suporta fila, tudo travado
Ele está sozinho na procura de Yakult
Ela detesta leite e tomava vermute
Ele querendo vida tranqüila, família, casamento
Ela curtindo solitude, bagunça, vivia de momento
Ele busca mulher confiante, independente, racional
Ela vivendo de mesada, inconstante, só emocional
Tudo é avesso, ao contrário
Nada se encontrava. Tudo solitário
Ela queria aproveitar tudo, viajar, se conhecer
Ele querendo sossegar, namorar, conviver
Ela buscava novas experiências
Ele buscando a troca de confidências
Ela ansiava por noites ímpares, diversão, descompromisso
Ele desejando noites de amor, risos íntimos, nada postiço
Ela procurava poesia simples, livre e sem regra
Ele pescando palavras, rimando, mesmo que sem métrica
Nada batia, muito de pouco, descompasso
Coisa esquisita, deslocada, sem laço
Ela queria comprar presunto na padaria
Ele estava sem manteiga, quem diria!?
Ela pegou o envelope de presunto e se virou
Ele pegou na prateleira a manteiga e a notou
Ela arrumava o cabelo, pensava na saída
Ele com mãos tremendo, manteiga caída
Ela pega a manteiga sente ele a olhar
Ele solta um sorriso, o mundo para de girar
Coração acelerado, perna bamba, suor na testa
Olhar parado, boca sem palavras, alma em festa
Ele se apaixona, fala de amor, se encanta
Ela se esquece do ímpar, só há par, se acalanta
Ele a pega pela mão, juntos, numa direção
Ela ao seu lado, não há mais dois mundos, só união
Ele trabalha, sonha, planeja o distante futuro
Ela estuda, também devaneia mesmo tudo ainda obscuro
Ele é afoito, quer rapidez, tudo urge
Ela tem seu tempo, seu momento, explosão surge
Tudo é novo, tudo é carinho, tudo é paixão
Muito de tudo é nada. É repressão
Ela foi se cansando, já não conseguia mais
Ele estático, a esperá-la no cais
Ela se afastou, gostava, mas temia
Ele a procurando. Tinha coragem, perseverava
Ela não tinha mais paciência
Ele não se atinava para iminência
Ela foi franca, terminou
Ele foi fraco, se irritou
Agora era solitário, era mágoa, era dor
Muito caos, pouco espaço, sem furor
Um momento, um detalhe. A vida acontece
As coisas mudam. Tudo nasce, cresce e fenece
Ele se recompôs e seguiu no que queria
Ela tocou o barco, fez da vida alegria
Ele rebrotou felicidade, contentamento e seguiu
Ela saiu pelo mundo, conheceu gente, se viu
Ele reencontrou o amor, parceria, companheira
Ela também amou, cresceu, mulher faceira
Ele teve filhos, carro, casa e família
Ela também, ao seu tempo, sua magia
É preciso a explosão para que haja nascimento
É preciso maturidade e, assim, crescimento
Com o tempo passa a dor, se esquece
Se houve respeito, a amizade prevalece
A vida continua, para todos, sem exceção
No misterioso movimento dos que foram e dos que virão
Teoria do caos, um detalhe, tudo se altera
Duas vidas, muita história, e algumas quimeras.