quinta-feira, 17 de março de 2011

Minha ambição

André Caixeta Colen

Quando me perguntavam
Ainda menino
O que queria ser
Respondia sem pensar:
"Quero ser rei
Soldado
Quero ser jogador de futebol
Talvez artista
Desenhista
Sonhador de sonhos não sonhados
"
Via-me perdido em quereres.
Depois cresci
E quando me perguntam
O que quer ser?
Apenas me vem uma resposta:
"Quero eu ser pó!"
Sumir no mundo
Desaparecer e só
Assim, sem nada
Sem razão
Nem por que
Só ser pó
Não ter de preocupar
Nem em ter
Nem em ser
A não ser
Em cumprir
Meu dever
Minha sina
Meu fado
Meu fim
E ser pó
Talvez seja isso!
Talvez todos
Uns mais
Outros menos
Temos este desejo
Esta inexorável expectativa
De um dia deixar de ser
Deixar ver
Deixar de se aborrecer
E ser pó!
Pó invade tudo
Não conhece fronteira
Não tem lugar
Invade e pronto
Ali está
Faz-se pó!
Pó não tem hora
Não tem idade
Não tem pressão
Não tem de correr
Ele é íntimo
Percorre nosso corpo
Ele navega
Solto no ar
Sem amarras
Sem destino
Só se navega,
Pó!
Taí! É definitivo!
Quando morrer
Façam-me pó!
Joguem-me por aí
Para que eu
Enquanto pó
Também possa
No meu tempo
Na minha hora
Sem pressão
Amarras
Destino
Sem fado
Sem caminho traçado
Direção determinada
Ser finalmente eu
Pó!