sábado, 9 de outubro de 2010

Noite amazônica (25 de Junho de 1993)

André Caixeta Colen

Estou agora sentado ao pé do parapará
busco o céu dos meus tempos de menino,
tateio a imensidão por dentre as folhas molhadas.
Sobre o meu corpo pesam o frio metal
a verde indumentária do guerreiro.

Assusta-me pensar que não posso mais sentir.
Sentir qualquer coisa.
Seja asco, raiva
amor, ódio, dor e compaixão.

Percebo, cada vez mais, que aquele menino de outrora,
que buscava nas estrelas do firmamento,
na imensidão do universo,
as respostas inocentes e verdadeiras,
se esconde agora sob o véu da matança,
acompanhado pela sinfonia da mata.

Aquele menino, de olhos dóceis,
de riso fácil, de palavras poucas,
tornou-se um predador adestrado
um ser rastejante.

Aquele menino, forjado homem
agora fareja, no silêncio da noite,
no véu da escuridão,
a presa inadvertida.

Sinto falta daquele menino,
sinto minha falta,
sinto falta do que realmente sou.
falta-me sentir o que mais aqui!?

Descubro então, ao pé do parapará
que ainda posso sentir
largarei meu escudo,
despir-me-ei de minha armadura
e acharei aquele menino de nome Dé.

Um comentário:

  1. Despir-se das armaduras é deixar que a criança de nós a nós disperte a vida...Mas pq isso só acontece quando chegamos ao limite de nós?

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